ENTREVISTA COM NUTRICIONISTA JOICE NERIS

 

"NOSSO PAPEL É APROXIMAR A TEORIA DA PRÁTICA" 

 

Em entrevista, Nutricionista Joice Neris conta os desafios e alegrias de ensinar crianças e adolescentes a se alimentarem melhor; Assunto é tema de curso online promovido pelo SindiNutri-SP no dia 27/02.

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Veja conteúdo programático completo aqui.

 

Como você começou a se interessar por esse tema? 

A Educação sempre me chamou atenção desde criança. Sempre gostei de partilhar histórias, experiências e conhecimento com meus irmãos, pais e amigos. Sempre achei que falar para as pessoas o que havia aprendido, me ajudava a entender e enfatizar o conhecimento.

E com a Nutrição só reforçou este papel. Atuo e já atuei em diversas áreas na Nutrição, mas tenho um carinho muito grande pela Educação Alimentar e Nutricional (EAN), principalmente na Infância e Adolescência, pelo fato de ter trabalhado durante muitos anos na área escolar.

Eu me envolvo em todos os processos do planejamento e da aplicação de atividades de EAN e me divirto quando estou com os alunos.

 

Como é o mercado de trabalho nessa área? Onde estão as melhores oportunidades? 

O Nutricionista sempre será um educador, independente da área de atuação escolhida e do público alvo. Existem muitas estratégias para promover e proteger a saúde, e com isso as oportunidades são infinitas.

Mas, especificamente para o grupo na infância e adolescência, podemos participar e intervir mesmo antes desta criança nascer, ou seja, na gestação e logo após o incentivo ao aleitamento materno.

A formação do hábito alimentar, inicia na infância, aí a importância delas aprenderem desde cedo a ter uma alimentação saudável e sustentável.

Para este público, encontramos oportunidades de atuação nas escolas, em consultórios, hospitais, serviços de acolhimento institucional para crianças e adolescentes, centro da criança e adolescente,  atividades voluntárias, etc.

 

Qual dica daria para quem está começando? 

Comecem! E como uma criança que está aprendendo a andar... dê o primeiro passo. Faça contatos, participe de grupos, aumente seu networking. Estude sobre o assunto, faça visitas, trabalhos voluntários e ainda quando estudante busque estágios em locais que tenham este público.

Para atuar com este público, não precisa ter expertise em atividades manuais para produção dos materiais e muito menos em entretenimento. Confesso que tive muita ajuda, e tenho até hoje, de outros profissionais, como pedagogos, professores, psicólogos, entre outros.  Mas, lógico que, estas habilidades também se tornam um diferencial para começar.  

 

Como o profissional Nutricionista pode garantir o legítimo protagonismo na Educação Alimentar em um mundo com tanta concorrência? 

Tem uma frase do grande educador Paulo Freire que acredito muito “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”

Existem muitas ferramentas, muita informação, muito conteúdo e mesmo assim, ainda continuamos a encontrar famílias com dificuldades em se alimentar melhor. Precisamos focar na educação nas pessoas e não somente em conteúdos ou métodos de ensino.

As metodologias tradicionais de ensino-aprendizagem baseiam-se em processos mais passivos, apenas na transmissão de conteúdo. E com crianças e adolescentes isso não funciona!

Nosso papel é aproximar a teoria da prática. E a EAN se torna um diferencial na atuação do Nutricionista quando tem a proposta transformadora, pois vai além de transferir conhecimento! A educação transformadora leva em consideração o contexto social, cultural e político.

Ou seja, não é só falar que frutas e legumes fazem bem ou que o prato precisa ser colorido... devemos criar experiências diferentes para incentivar a autonomia das escolhas saudáveis, dentro do contexto que estas pessoas estão inseridas.

E, preciso enfatizar que aprendemos muito! Neste processo há uma troca de saberes!

 

Qual o principal desafio na hora de educar crianças e adolescentes para que escolham consumir comida de verdade?

São muitos os desafios que encontramos quando falamos no processo de EAN. Mas, vou listar 04 grupos, que considero desafiadores:

  1. A Família: Encontramos muitos hábitos e comportamentos que deverão ser trabalhados juntamente com as crianças. E nem sempre conseguimos permissão e engajamento para a realização destas mudanças.
  2. A Escola: Em algumas situações as atividades de EAN nas escolas são limitadas e com isso, há prejuízos em colocar em prática as propostas consideradas transformadoras.
  3. Pediatras desatualizados: Profissionais desatualizados dificultam o trabalho na introdução alimentar, e com isso, fica mais difícil convencer a família de orientações mais atualizadas.
  4. Dificuldades alimentares como apetite limitado, seletividade e medo de se alimentar.

Mesmo existindo outros desafios, posso afirmar que, todos os listados são oportunidades para se trabalhar, logo, quando trabalhamos EAN, não limitamos somente as crianças e adolescentes, mas todos que o cercam.

 

Que papel a família e a escolha devem ter na educação alimentar das crianças e juventude? E qual a melhor abordagem o profissional da Nutrição precisa usar com cada uma dessas instituições?

 A família é responsável por definir o que a criança vai comer, quando, como e por quê.

As crianças e adolescentes sofrem influência direta da alimentação dos pais. O comportamento alimentar da família e as práticas adotadas também são fatores que contribuem na formação da alimentação e paladar da criança.

A escola depois da família é o melhor lugar para trabalhos de EAN, é um local privilegiado! Contribui com o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem e a formação de hábitos saudáveis dos alunos, além da oferta de refeições 

Nestas instituições, o profissional deve apresentar um plano de trabalho e atividades, sempre pautado em informações e conteúdos de fontes confiáveis, de forma transparente e respeitosa, compartilhando e dividindo responsabilidades.  

 O Nutricionista precisa ter empatia, paciência, ser animado, criativo, assertivo e estar pronto para responder as perguntas mais espontâneas deste mundo, vindas das crianças. Totalmente sem filtro!

A Educação Alimentar e Nutricional direcionada a este público é uma área linda e gratificante. Participar da formação alimentar das crianças e acompanhar os resultados que elas apresentam, não tem preço!



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